A CASA MATERNA. (Questões 1 a 8 com gabarito 9º ano)

LEIA O TEXTO IV PARA RESPONDER ÀS QUESTÕES

A CASA MATERNA
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Há, desde a entrada, um sentimento de tempo na casa materna. As grades do portão têm uma velha ferrugem e o trinco se oculta num lugar que só a mão filial conhece. O jardim pequeno parece mais verde e úmido que os demais, com suas plantas, tinhorões a samambaias que  a mão filial, fiel a um gesto de infância, desfolha ao longo da haste.


É sempre quieta a casa materna, mesmo aos domingos, quando as mãos filiais se pousam sobre a mesa farta de almoço, repetindo uma antiga imagem. Há um tradicional silêncio em suas salas e um dorido  repouso em suas poltronas. O assoalho encerado, sobre o qual ainda escorrega o fantasma da cachorrinha preta, guarda as mesmas manchas e o mesmo taco solto de outras primaveras. As coisas vivem como em prece, nos mesmos lugares onde as situaram as mãos maternas quando eram moças e lisas. Rostos irmãos se olham dos porta-retratos, a se amarem e compreenderem mudamente. O piano fechado, com uma longa tira de flanela sobre as teclas, repete ainda passadas valsas, de quando as mãos maternas careciam sonhar.

A casa materna é o espelho de outras, em pequenas coisas que o olhar filial admirava ao tempo que tudo era belo: o licoreiro magro, a bandeja triste, o absurdo bibelô. E tem um corredor à escuta de cujo teto à noite pende uma luz morta, com negras aberturas para quartos cheios de sombras. Na estante, junto à escada, há um tesouro da juventude com o dorso puído de tato e de tempo. Foi ali que o olhar filial primeiro viu a forma gráfica de algo que passaria a ser para ele a forma suprema de beleza: o verso.

Na escada há o degrau que estala e anuncia aos ouvidos maternos a presença dos passos filiais. Pois a casa materna se divide em dois mundos: o térreo, onde se processa a vida presente, e o de cima, onde vive a memória. Embaixo há sempre coisas fabulosas na geladeira e no armário da copa: roquefort amassado, ovos frescos, mangas-espada, untuosas compotas, bolos de chocolate, biscoito de araruta – pois não há lugar mais propício do que a casa materna para uma boa ceia noturna. E porque é uma casa velha, há sempre uma barata que aparece e é morta com uma repugnância que vem de longe. Em cima ficaram guardados antigos, os livros que lembram a infância, o pequeno oratório em frente ao qual ninguém, a não ser a figura materna, sabe por que queima, às vezes, uma vela votiva. E a cama onde a figura paterna repousava de sua agitação diurna. Hoje, vazia.

A imagem paterna persiste no interior da casa materna. Seu violão dorme encostado junto à vitrola. Seu corpo como se marca ainda na velha poltrona da sala e como se pode ouvir ainda o brando ronco de sua sesta dominical. Ausente para sempre da casa, a figura paterna parece mergulhá-la docemente na eternidade, enquanto as mãos maternas se faziam mais lentas e mãos filiais mais unidas em torno da grande mesa, onde já vibram também vozes infantis.
FONTE: http://www.vinicius-de-moraes.a-casa.buscaletras.com.br/ Vinícius de Morais.Acessado em 12/05/2008.

Vocabulário 
▪ Dorido: que tem e/ou expressa alguma dor (física ou moral). 
▪ Untuoso: gorduroso. 
▪ Votivo: ofertado em promessa. 


QUESTÃO 01. No 1º parágrafo se observa um sentimento de saudosismo do narrador em relação à casa materna, sugerido pela passagem do tempo. Segundo o texto, o que NÃO sugere a passagem do tempo, quando ele entra em casa? 
A) A ferrugem nas grades do portão. 
B) A lembrança do local do trinco do portão, que só os filhos conheciam. 
C) O pequeno jardim transformado desde a entrada da casa. 
D) O hábito infantil de tirar as folhas da haste de samambaia. 

QUESTÃO 02. O silêncio estende-se por toda a casa materna, cheia de imagens do passado. Nesta frase: “As coisas vivem em prece [...]”, o significado é 
A) Os problemas começaram a se resolver com tranquilidade. 
B) Os fatos vão acontecendo pouco a pouco, sem atropelos. 
C) Como passar do tempo, tudo se modifica rápido. 
D) A vida parece igual, tudo continua da mesma forma. 

QUESTÃO 03. Em que passagem do texto é possível entender que a mãe, já idosa, ainda continua na casa e que o pai havia falecido? 
A) “Ausente para sempre de sua casa materna, a figura paterna parece mergulhá-la docemente na eternidade, enquanto as mãos maternas se fazem mais lentas [...]”. 
B) “A imagem paterna persiste no interior da casa materna. Seu violão dorme encostado junto à vitrola”. 
C) “E a cama onde a figura paterna repousava de sua agitação diurna. Hoje, vazia”. 
D) “Na escada há o degrau que estala e anuncia aos ouvidos maternos a presença dos passos filiais”. 

QUESTÃO 04. Com base no texto, considere as afirmativas abaixo: 
I. O andar térreo continua a ser utilizado. 
II. O corredor é visto como personagem dos fatos que ocorrem na casa materna. 
III. O piano fechado simboliza todo passado de alegria e sonhos que ficou para trás e deu lugar à saudade. 
Está CORRETO o que se afirma em: 
A) I e II apenas. 
B) I e III, apenas. 
C) II e III, apenas. 
D) I, II e III. 

QUESTÃO 05. Qual é a função do termo destacado na oração abaixo? “As grades do portão têm uma velha ferrugem”. 
A) Objeto indireto. 
B) Adjunto adnominal. 
C) Complemento nominal. 
D) Aposto. 

QUESTÃO 06.O texto de Vinícius de Morais é, PREDOMINANTEMENTE,
A) descritivo.
B) narrativo.
C) injuntivo.
D) dissertativo.

QUESTÃO  07 Entre os elementos que se encontram presentes na construção do texto, só NÃO está presente
A) o uso freqüente de adjetivos.
B) a linguagem figurada.
C) a subjetividade discursiva.
D) a sucessão temporal.

QUESTÃO 08 São recursos empregados pelo locutor na construção do texto, EXCETO
A) enumerações.
B) abundância de frases nominais.
C) metáforas.
D) eufemismos

Gabarito
1   C
2    D
3    A
4    D
5    B
6    A
7    D
8    B

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